“Tudo nele lembra poesia. Os trejeitos, a forma como anda, como se veste e a maneira como apóia o queixo na palma da mão quando está concentrado, a forma como olha para as pessoas quando fala com elas, ou a maneira como costuma pronunciar o “r”, assim meio aberto, acentuado. Até mesmo seu tom de voz (ele nem pode imaginar o quanto a emociona toda vez que diz o nome dela com aquela voz).
E eu poderia listar várias outras coisas que atraem a atenção dela, mas nada desperta tanta inquietação quanto os olhos dele. Eles são assim, meio oblíquos, intensos, profundos, fazem-na lembrar de Machado de Assis quando descreveu Capitu, “olhos oblíquos de ressaca”, a mesma ressaca que ela sentia toda vez que tentava desvendar aquele olhar...
Nem eu que conheço bem a garota posso dizer como ela foi percebê-lo assim, ou melhor, como ela foi perceber-se assim. Não posso se quer dizer “apaixonada”, porque não sei se é mesmo esta a palavra.
Apenas posso contar aquilo que vejo, aquilo que de observável as circunstâncias me apresentam.
Ela está inexplicavelmente cativada, em todos os sentidos que a palavra possa apresentar: está presa, dominada, aliciada, seduzida e, principalmente, grata.
Grata sim, pois não haveria momento mais oportuno para que ele surgisse na vida dela.
É como se seus olhos emanassem toda a alegria, a paz, a tranqüilidade, a segurança e a liberdade que a luz parece transmitir. A luz que havia se apagado nela.
Ela era noite e ele dia. Ele era luz e ela escuridão.
O oposto, o desconhecido, a incógnita que misteriosamente suscita nela uma incontrolável vontade de decifrar, de desvendar.
Não precisava mais nada, apenas olhar para ele a fazia feliz. Mas ela é ambiciosa, ela quer sempre mais. Quer ouvi-lo, quer tocá-lo, quer estar perto dele.
Ela não imaginou que essa situação tomaria tais proporções, mas se ela é culpada, ele também é. Ele é culpado por ser tão especial, por ter trazido de volta a ela a fé em sua capacidade de gostar verdadeiramente de alguém, sem se importar com o fato de parecer irracional, sem sentido, infantil...
Quem dera todos olhassem o mundo com os olhos de criança, que todo mundo fosse espontâneo e sensível, como criança.
Certamente o mundo seria mais humano e bem menos superficial.”
Queria saber que personagem você é na minha história?
Bom, agora você já sabe.
P.S.: Pois é querida, eu e essa minha velha mania de me apaixonar por caras de olhar oblíquo...